jueves, abril 24, 2008

Caso Isabella: a dor da falta de sentido


Eu tentei não ler sobre a morte da menina Isabella. Também evitei, na época, os detalhes do assassinato daquele menino arrastado, o João Hélio, porque, na minha profissão, eu tenho que selecionar os horrores, senão eu fico maluco. Mas eu não consegui! Eu vi o desfecho do caso da menina morta. Essa tragédia não é só das vítimas: nós também sofremos para entender esse mal incompreensível. Cresce em nós uma pele de rinoceronte na alma; com o coração mais duro, ficamos mais cínicos, mais passivos diante da crueldade. Um filósofo chamado Oswaldo Giacoia Júnior escreveu, uma vez, o seguinte: "O insuportável não é só a dor mas a falta de sentido da dor e mais ainda a dor da falta de sentido".

Como entender que um pai e uma madrasta possam ter ferido, estrangulado e atirado uma menininha de cinco anos pela janela? Como entender a cara sólida e cínica que eles ostentam para fingir inocência? Como não demonstram sentimentos de culpa algum? Ninguém berra, ninguém chora! Como podem querer viver depois disso? Como essa família toda, pais, mães, irmãos se unem na ocultação de um crime? Como o avô pode dizer com cara de pau que 'se meu filho fosse culpado eu o denunciaria'? O que quer essa gente? Preservar o bom nome da família? Mas são parentes ou são cúmplices?

A polícia deu um show de bola pericial no caso Isabella. Mas dá para sentir que a nossa estrutura penal tá muito defasada com este espantoso crescimento da barbárie. Como se pode tolerar que um sujeito que foi condenado outro dia, na semana passada, somente a treze anos por ter esquartejado a namorada, alegando legítima defesa, possa ficar em liberdade até esgotar os recursos que a lei prevê, como diz o Supremo Tribunal de Justiça? Como entender que aquele jornalista, o Pimenta das Neves, que premeditou o assassinato da namorada com dois tiros pelas costas e na cabeça, condenado já a seis anos, esteja ainda em liberdade, na boa?

As leis de execução penal têm de ser aceleradas, as punições têm de ser mais terríveis, mais violentas, mais rápidas, mais temíveis. Há um crescimento da crueldade acima de qualquer codificação jurídica. Essa lentidão, esse arcaísmo da justiça, é visível não só nos chamados crimes de classe média não, como também na barbárie que galopa nas periferias. O Elias Maluco (lembram, aquele que matou o Tim Lopes com golpes de espada?) estava em liberdade condicional, sabiam? Não se trata mais de uma perversão do humano, mas de uma perversão do animal em nós. Os pensadores da justiça continuam a tratar os crimes como desvios da norma, praticados por cidadãos iguais. Tem de acabar o tempo dos casuísmos, das leniências, das chicanas. E esse casal de pedra, esses monstros? Será que vão se defender em liberdade esgotando os recursos da lei, como o esquartejador com justa causa? Serão condenados a dez aninhos com atenuantes? O que acontecerá com eles? A lei tem de ser mais temida, mais rápida e mais cruel... Esses vacilos da justiça explicam sucessos em filmes como "Tropa de Elite" e até explicam fantasias de linchamento em nossas cabeças. Que Deus me perdoe.

Um texto do Arnaldo Jabor

1 comentario:

Marce dijo...

A pouco tempo eu acreditava mais no que as pessoas diziam, só depois delas se mostrarem indignas da minha confiança, as coisas tomavam outro rumo. Hoje, depois de tantos tombos por esse excesso de confiança depositado em quem não merecia grrrrr!!....bem isso serviu para algo, isso me ensinou a duvidar. Uma cara bonita, um bom papo, uma inteligência brilhante, uma religião, tudo isso muitas vezes é usado para despistar a falta de caráter ou uma maldade camuflada capaz de exterminhar prazerosamente um ser humano. Tudo é possível SIM, até mesmo que aquelas criaturas sem alma tenham agido em cumplicidade por algum motivo (se é que existem motivos para assassinar um ser indefeso que não pediu para nascer!) e brincado de acabar com a vida como se fossem Deuses! O que farão futuramente aos próprios filhos? Haverá remorso nesse desgraçado? Ou será que foi vingança da ex e sua filha foi apenas um instrumento descartável... nunca saberemos.

Este texto do Jabor é quase perfeito. O problema da justiça brasileira é o problema da identidade Brasileira (seu pensamento, seu sistema, seu estilo, jeitinho, cultura). Qualquer problema, grande ou pequeno, continuará ocorrendo enquanto não for tratado na raiz, no princípio, na essência. No Brasil que tem poder e influência é aliviado. As leis não são iguais para todos. Fiquei sabendo que em um período próximo desta tragédia da Isabella, aconteceu algo muito parecido com outra família (em um local muito próximo do apartamento da Isabella também). Um Pedreiro jogou sua filha pela janela, na verdade dizem que ela pulou de tanta surra que estava levando. Sabem o que aconteceu com o pedreiro? Ele está preso. Provavelmente vai ficar anos apodrecendo na cadeia, até resolverem julgar seu caso pelo menos. Porque isso não está na mídia?? Oras, porque é esperado de um pobre, matar, roubar, estuprar.
continuação final... O pior de tudo é que dizem que o pai da Isabella nem conseguiu passar na AOB. Bom isto é notável, ele nem sequer soube esconder as provas do crime. Sem contar que fez a escolha errada. Bastava ter alegado insanidade mental, ou algo assim (não conheço direito), e ele teria sido muito aliviado pela lei, quase absolvido digamos assim. Claro que para isso teria que pagar um “bom” advogado, ou dois...
Agora um advogado filhinho de papai cometendo um crime desses gera sensacionalismo jornalístico. Ainda mais com sua família (quadrilha) de cúmplices. A família toda devia estar por trás das grades se a lei fosse igual para todos. Quem tem terceiro grau ainda ganha a suíte máster do xadrez: ar condicionado e celular para pedir sua comida predileta no delivery enquanto o habeas corpus não chega. Porque eu pergunto? A pena deveria ser pior para os criminosos que tiveram a possibilidade de estudar e não o contrário! (não vou nem entrar em condições precárias de moradia, trabalho e saúde). Mas imagina um juiz colocar um parente de um amiguinho dele em cana?!..e assim vão os políticos corruptos, promotores, advogados, médicos ou qualquer criminoso Burguês. Pobre é ladrão, rico é cleptomaníaco.

Bom, esse comentário virou quase um post.... mas não podia ficar calada!