domingo, julio 29, 2007

Buraco na parede

Dessa janela vejo as luzes das favelas que me circulam, os vários mundos que não são meus, mas que admiro. Admiro tanto o céu e a lâmpada do quarto acesa, mesmo que ela me atrapalhe o olhar e a paisagem que observo daqui. Daqui dessa cadeira vejo as cartas das paixões emudecidas, me lembro das histórias vividas e as frustrações eminentes. Vejo minha agenda antiga, das mentiras descabidas que já me disseram. Vejo meu mundo meio desarrumado, mas cheio de saudade. Cheio de mistério. Cheio de loucura, como tudo que sou. Ouço as músicas da minha vida, ouço as frases apaixonadas. Os “eu te amo” que me sufocaram. Os “eu te odeio” que me pertubavam e agora já não me importo. Não me importo nem com o começo e nem com o fim. Só sou apaixonada por aquilo que é presente, mas tem futuro. Eu me lembro dos amigos que só estiveram aqui quando chamei e aqueles que me chamam o tempo todo e minha vida me desvia.

Não foi minha intenção ser hipócrita, mas essas atitudes bossais que tomamos, são tão incontroláveis quanto os surtos que tenho de vez em quando. E me sinto fantástica quando os tenho. Me sinto fantástica quando consigo confundir o óbvio, mesmo quando é impossivelmente eloqüente. Dessa janela vejo o céu escuro, o claro luar tentando sobreviver por entre as nuvens. Não adianta tocar a campainha, nem meus suspiros estarão à espera. Dessa janela quero lavar a sujeira da minha mente infantil. E minhas memórias pueris. Vejo uma menina chorando e o grito da criança solitária que fui. E me lembro que minha solidão sempre foi acompanhada da minha pequena irmã que também vejo daqui. E eu amo seu sorriso mais que a poesia. Amo muito mais que o amor. Amo tanto que a dor é pequena. Nem a saudade é maior. Dessa janela vejo o mundo que tenho pra ganhar. Vejo as viagens que tenho que fazer. As várias línguas que tenho pra aprender. As várias cidades que quero morar. Culturas, culturas e culturas que quero conhecer. Obrigado janela, por me mostrar que ainda tenho sonhos e os sonhos me renovam.

martes, julio 24, 2007

Travalenguas de esperanza


No hay nada que me desespere tanto como esperar, esperar lo que impacientemente espero aunque me haya olvidado de esperar, desesperándome cuando recuerdo que espero lo desesperante al no esperar nada. Y así ando dándolo todo sin esperar, olvidando que espero el deseo que se hace esperar mientras espero. Esperando no olvidar al encontrar lo que esperaba, que era justamente eso lo que me desesperaba antes de haberlo encontrado, mientras estaba esperando, al no esperar nada. Al fin y al cabo todo el mundo espera algo.

domingo, julio 15, 2007

O Ventilador II

O vento vai entrando pela janela de nossas completas solidões, revirando as lágrimas nos olhos, lembranças já choradas, casamentos mertamorficados e delírios vagos. Ele desnuda a gente e nos revela como realmente somos: feitos de pele, ossos, ilusões e ferrugem. Nos desesperamos fechados num quarto escuro que só assusta a nós e uivos entram pela fresta da janela, por baixo da porta, pelo buraco do ar-condicionado tampado com filetes de madeira. Nós descobrimos que nenhuma das músicas eternizadas são eternas, nem as cisternas d’água duram pra sempre. Somos poços artesianos que secam. E a hélice gira quase que nos arrancando os lençóis e sonhos, antes tão bem sonhados, então acordamos pra vida. Percebemos que nossos abstratos são ridículos, impossíveis, estranhamente estáticos, quase indeléveis. Nossas atitudes ficam presas em nós como se estivéssemos carregando cruzes, ou âncorados num retardado retrocesso. E vamos repetindo erros, repetindo atitudes impensadas, lutas inúteis, mutações bizarras de emoções. Vamos aumentando os ventos até se tornarem furacões e passamos a destruir carros, calçadas, casas, corações, lustres, luas, sombras e almas, enquanto andamos.

Deduzimos sempre estarmos no caminho certo, no futuro certo, até na hora certa e nossas metáforas são nulas diante da nossa própria hipocrisia. Somos os mesmos cretinos do ano passado, as mesmas mentes perigosas do ano anterior, os mesmos bossais antiquados cuspidos desde o nascimento. Então paramos, juntamos nossos cacos erodidos pelo tempo e modificamos pra valer o que tinha sido quebrado. Colamos farelo por farelo. Repintamos tudo para não só remendar. Tomamos sol para a pele clarear, tomamos cálcio pros ossos aguentarem a labuta, enchemos nosso peito de força e vamos à luta. Rearrumamos as nações cabidas em nossos olhos e hipervalorizamos nossos sonhos, castelos, futuros. Tomamos posse do manche do barco que nos levará pra depois da tempestade e só de coragem nos alimentamos. Nenhuma ventania pode nos parar, só nos empurrar pra frente assoprando nossas velas. Então depois que o agora nos reduzir medos, mentiras e mesquinharias, conseguiremos alcançar o inexplicável. Amando mais, sorrindo mais, voando mais alto. Na velocidade do ventilador.

jueves, julio 05, 2007

Jugar a ser mayor

Es como cuando jugaba a corretear por la casa con los zapatos de tacon de mamá... a veces aun me miro los pies, como si los zapatos todavía me fueran grandes...
Me disfrazaba, me pintaba los labios de rojo... luego simplemente me resfregaba la cara con la toalla y volvia a ser yo... ahora no me pinto los labios y aun asi a veces tengo la sensación de encontrar carmín en la toalla...
A veces frente a las cosas aun me siento asi... como cuando jugaba a ser mayor...como si fuera una niña con unos guantes de boxeo.


É como quando brincava de correr pela casa com os sapatos de salto da miha mãe... as vezes ainda olho meus pés, como se os sapatos ainda me ficassem grandes...
Me fantasiava, pintava os lábios de vermelho... logo simplesmente esfregava a cara com a toalha e voltava a ser eu... agora não pinto mais os lábios mas mesmo assim as vezes ainda tenho a sensação de encontrar batom na toalha...
As vezes diante algumas coisas ainda me sinto assim... como quando brincava de ser adulta... como se fosse uma menina com luvas de boxe.