martes, agosto 21, 2007

Anjos

Às vezes é como um fantasma que toma todos nós, seres extraterrestes, e faz arrancar mais uma doce felicidade. É como nos pegamos como egoístas querendo felicidade apenas para nós. Somos anjos. Somos sonhos. Somos a mesma rotina de dia após dia. De noite após noite. Somos muito maiores que o que comemos ou o que falamos ou como observamos o mundo. Não percebemos que as milhares de pessoas passam como fantasmas imperceptíveis. Não conseguimos lembrar que cada ser humano tem uma história. Que cada um tem um lar e teve o primeiro beijo de uma maneira diferente. Que cada um vive seu drama. Que cada um é um ser vivo semelhante a nós e respira e sente dores na cabeça. E, como nós, gritam, choram, pensam. Somos egoístas. Somos tão inexplicáveis que qualquer palavra evidente é simples coincidência. Somos anjos. E não há nada no mundo que mude isso. Somos as mesmas mentes perigosas que maquinam, mesmo que inconciente, cada atitude. Mas cada atitude pode ferir o próximo. Não pensamos no próximo. O outro é apenas os que te cercam. Mas existem milhares de pessoas que nos cercam que não percebemos. O carteiro, o pipoqueiro que viu você e ele sorrir, o taxista que levou você ao encontro dele, não percebemos o lancheiro, o lixeiro, o cozinheiro, às vezes não percebemos os porteiros, a doméstica, não percebemos nossos pais, ou nossos filhos, ou nós mesmos.

Chegamos ao limite da cegueira. Onde não se consegue observar e choramos. Choramos quando conseguimos medir o tamanho da nossa hipocrizia. Quando medimos a tamanha falta de compaixão. Quando percebemos que somos todos egoístas. Então a flor não germina e a procura não segue adiante e a loucura não segue adiante e nossas asas não crescem adiante. Somos anjos, mas não podemos voar, não podemos atravessar a parede ou ouvir os pensamentos alheios. Mas as maiores armas não são essas. As maiores armas são os sentimentos. É prestar atenção que quando uma senhora sobe no ônibus, deve estar muito mais cansada que você que chegou da noitada. Então levante-se! Que o porteiro fica fulo da vida, e que um bom dia ou um sorriso pode enchê-lo de alegria. Temos o poder de perceber que todos que nos cercam não são formigas, não são árvores, não são objetos, são humanos. São animais. Todos devem ser percebidos. Devem ser ajudados. Ou você prefere ser também um ignorado? Afinal, você é só a sujeira do grão de areia no imenso deserto que é a vida. Todos nós somos. Iguais.

No hay comentarios.: